terça-feira, 11 de agosto de 2009

DIA DE FOLGA



De volta para Casa



Flávia Fontes


“_Um beijo amor, te amo, viu?!” Assim, Arthur se despede, estampando uma ternura no olhar, que parece convencer-me de que a vida é doce. Mas a imagem dele distancia-se e o carro segue.
Daí em diante a poeira da estrada esfumaça a visão, apenas a senhora sentada ao banco da frente, chama minha vigilância. Ela dorme tranqüila, mas a cada buraco mal olhado, acorda e balbucia palavras de pouco sentido. “_Meu filho já paguei a corrida, já?... Ah, bom, só me avise quando chegarmos”, dizia a cada buraco. E o motorista, acostumado aos “sem sentidos da vida”, sorrir e conformado responde: “Pode deixar comigo Madame!”.

Então, só eu desconforme com tudo. Aquela poeira não incomoda a mais ninguém, só aos meus olhos. Fecho o vidro, coloco a jaqueta jeans sobre o rosto... Falta-me o ar... A viagem que parece não ter fim chega a um novo ponto: a travessia do Rio Jari. São 20h:07m.

Acordada, a senhora se mostra lúcida, mas o cheiro de álcool é forte assim como a generosidade dela. “A gente pega a catraia aqui, vem eu te ajudo”, diz solidária à minha desorientação. O celular toca, acho que é mensagem de Arthur, mas até abrir a bolsa e achar o caminho do barco.

A noite de agora parece mais escura que todas as anteriores, mas meu ser está tão claro, pareço uma ponta de estrela na terra dos desconhecidos... Embora, seja a segunda vez que venho a Monte Dourado, ainda não assimilei todos os trajetos de ida e vinda de Munguba e todas as catraias e táxis que temos que pegar para chegar a algum lugar. E, na penumbra, Lúcia, a senhora sonolenta, estende-me a mão e diz: “vem filha eu te ajudo”.

Ainda não sei se as pessoas se ajudam por que precisam de ajuda ou por que são solidárias. Embriagada e quase sem equilíbrio, a mulher parece dizer: “Eu te mostro o caminho, mas você me ajuda a andar”... Trato Feito! Seguimos a travessia. Dentro da pequena embarcação, Lúcia pergunta meu nome, meu endereço e como era de se esperar, pergunta o que eu estava fazendo ali.

Sentindo a brisa gelada tocar meu rosto, vejo o Rio ser cortado pela pequena embarcação. Dou-me o direito de permanecer em silêncio e observar, quantos sonhos disputam esperanças entre os olhos do rio, da mulher que parece sonolentamente solitária... E, nos meus olhos que também disputam sonhos nesta existência...



Continua na próxima semana

3 comentários:

Leonardo Schabbach disse...

O blog está bem legal mesmo. Desculpe ter demorado a dar uma passada aqui, já tinha visto o comentário no meu blog faz tempo, mas estava meio enrolado na época e fui esquecendo.

Enfim, bem legal o blog, interessante, com algumas pitadas de humor. Vou colocar um link lá no meu. Parabéns!

saitica disse...

Gosto muito mesmo deste Jornalismo de Saia.Visito regularmente. Parabéns. Não vamos nos perder na floresta,muito menos no asfalto !
Daniel de Andrade
Visite www.saitica.blogspot.com

Jornalismo de Saia disse...

Olá Daniel Andrade, agradeço imensamente as visitas e esteja a vontade para sugerir temas a serem publicados aqui.

Andei afastada da produção, pois sofri um pequena acidente doméstico. Mas já estou fazendo levantamento de pautas para por a mão na massa!

Fique a vontade e venha sempre que quiser!

Abraços

Flávia Fontes
Editora do Blog